Estudantes de Antônio Martins desenvolvem transmissor com sucatas!
A criatividade a serviço da ciência. É assim que podemos definir o trabalho desenvolvido pelos estudantes Francisco José Mesquita, 19, e José Jalissom, 19, que cursam o 3º ano do ensino médio, na Escola Estadual Governador Walfredo Gurgel, em Antônio Martins. Os dois são responsáveis pela criação de minitransmissor de rádio móvel com sucatas eletrônicas, projeto que representará a cidade e todo o Rio Grande do Norte na Internacional Sustainable World Project Olympiad, feira que acontecerá em maio de 2016, em Houston, nos Estados Unidos (EUA).
A participação nessa feira de renome internacional foi assegurada durante participação na 13ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (FEBRACE 2015), realizada no período de 17 a 19 de março deste ano, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Na oportunidade, eles também receberam medalha de ouro na categoria Ciências Sociais Aplicadas, subcategoria Comunicação. Os estudantes foram contemplados ainda com a possibilidade de publicar o projeto na InCiência Revista.
O projeto dos estudantes consiste em viabilizar o funcionamento de uma rádio dentro daquela escola estadual. A iniciativa surgiu em meio à dificuldade. “Nossa escola transmitia informações por meio de um sistema de alto-falante, mas teve os equipamentos furtados. Diante desse acontecimento, começamos a pensar em uma forma que permitisse a retomada da comunicação interna por meio de um sistema de rádio”, disse Francisco.
Hoje, qualquer aparelho celular na unidade de ensino tem a possibilidade de receber o sinal da rádio, o que facilita a transmissão de informes direcionados aos alunos e profissionais da Educação, e o esclarecimento de dúvidas dos estudantes, fortalecendo a comunicação na instituição. “O projeto proporciona interatividade entre os alunos e a divulgação de informações importantes para a escola”, declarou a orientadora da iniciativa, a professora de matemática, Humbertina da Silva.
As inúmeras conquistas são frutos de muita dedicação. No dia 20 de julho do ano passado, o projeto começou a ganhar forma. Contudo, a matéria-prima foi retirada de um lugar inusitado. Trata-se do lixão situado em Antônio Martins.
“Utilizamos placas de aparelhos de TV encontrados no lixão para produzirmos o minitransmissor. O Francisco já realizava consertos em aparelhos celulares e aproveitamos essa aptidão para montar o minitransmissor. Mas, tivemos também que estudar sobre frequências para, então, podermos colocar a rádio no ar”, disse Jalissom.
A criatividade realmente permeia a ideia, que foi concluída em outubro de 2014. Os microfones da rádio são confeccionados com a utilização de canos de PVC, espumas de colchões e componentes eletrônicos também extraídos de televisores. A estrutura da antena, por sua vez, é composta por palitos de picolés. A iniciativa conquista ainda mais importância, uma vez que está alicerçada no conceito de sustentabilidade – reaproveitamento de materiais.
Os outros alunos da escola aprovam o projeto, segundo pesquisa realizada pelos idealizadores do projeto. De acordo com o levantamento, 90% dos alunos consideram que a iniciativa proporciona benefícios para a unidade de ensino. Outros dados trazem uma avaliação mais específica: 60% afirmam que o projeto é benéfico porque facilita a propagação de informações gerais; 16% dizem que a rádio ajuda na aprendizagem; 20% enfatizam a descontração como ponto positivo; e 4% aprovam a ideia, uma vez que permite abordar temas sociais em âmbito escolar.
TRAJETÓRIA
O estímulo à criatividade decorre das atividades do programa Mais Educação e a trajetória para o reconhecimento do trabalho foi composta por várias etapas. Os estudantes participaram de uma feira de ciências local, da feira promovida pela 12ª Diretoria Regional de Ensino (12ª DIRED), da 4ª Feira do Semiárido Potiguar, realizada na Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), e da feira nacional ocorrida na USP. “O interessante é que os meus alunos não tiveram o reconhecimento pretendido na feira da Ufersa. Essa conquista só se tornou real no evento da USP”, disse a orientadora Humbertina.
Mas a 4ª Feira do Semiárido Potiguar na Ufersa também proporcionou um resultado positivo. A partir da participação no evento, os dois estudantes começaram a receber uma bolsa no valor de R$ 100,00 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Contudo, esse auxílio não é suficiente para assegurar o custeio de todas as despesas em Houston, nos Estados Unidos. Segundo a professora e os estudantes, o credenciamento para a feira internacional disponibiliza apenas alguns serviços: hospedagem, algumas refeições e traslado para o evento e passeios. Ou seja, há necessidade de uma contrapartida do Estado.
“Para nos deslocarmos para a feira realizada na USP, em São Paulo, tivemos uma ajuda do Governo do Estado. Agora, também aguardamos esse apoio”, disse Humbertina. A professora aproveitou para salientar que a Escola Estadual Governador Walfredo Gurgel se engaja em vários projetos, mas se depara com muitas deficiências. “Realizamos vários trabalhos, mas falta estrutura para a escola”, destacou.
EXPECTATIVA
A expectativa de Francisco Mesquita é imensa. “Vou fazer de tudo para representar nossa escola, nosso Estado”, frisou. E o sentimento de Jalissom não é diferente. “A expectativa é grande. Antônio Martins é uma cidade de apenas sete mil habitantes e, agora, teremos a oportunidades de expor nosso trabalho na maior feira de ciências do mundo. Até lá, nosso desafio é aperfeiçoar o inglês”, declarou.
Publicado em Gazeta do Oeste, por Blog Gazeta do Oeste.