Surto de zika no Brasil completa um ano: uma doença obscura virou uma emergência de saúde global.

por Antonio Daniel da Silva publicado 06/05/2016 11h10, última modificação 06/05/2016 11h10

No início de fevereiro de 2015, médicos da Região Nordeste do Brasil notaram um aumento no número de pessoas reclamando sobre uma doença leve, com e sem febre, caracterizada por erupção cutânea, fadiga, dores nas articulações e conjuntivite. A doença foi breve e a recuperação espontânea. Uma forma leve de dengue, transmitida por um mosquito no país, era a suspeita, mas os testes foram negativos na grande maioria das amostras. Chikungunya, outra doença transmitida por mosquitos, detectada pela primeira vez em 1952 na África, foi igualmente suspeita. Mais uma vez, os resultados dos testes foram negativos.
 

Em março, o Brasil informou à Organização Mundial de Saúde (OMS) que cerca de 7.000 casos de uma doença caracterizada por erupções cutâneas haviam sido notificados em seis Estados da Região Nordeste. Laboratórios haviam realizado uma bateria de exames em mais de 400 amostras de sangue; 13% das amostras foram positivas para dengue, mas negativas para diversos outros vírus conhecidos por provocarem erupções cutâneas. O agente causador permaneceu uma incógnita.
 
A primeira pista promissora veio ao fim de abril de um laboratório na Bahia, onde os pesquisadores começaram a suspeitar que a doença pudesse ser transmitida nas áreas com densa população de mosquitos. Foi realizado um teste para o zika, um vírus exótico e pouco compreendido, nunca visto antes nas Américas. Embora o resultado tenha sido positivo, dúvidas permaneceram. Testes para zika são tecnicamente desafiadores, já que o vírus reage de forma cruzada com os vírus da dengue e chikungunya, ambos presentes no país à época. Apesar de comprovar em testes realizados em laboratório de referência do Brasil a identificação do vírus zika em várias amostras, ninguém ainda sabia o que isso poderia significar.
 
Nova descoberta
A descoberta foi surpreendente, porém difícil de interpretar. O aparecimento de um vírus em uma nova área geográfica é sempre motivo de preocupação, já que a população não tem imunidade pré-existente para retardar o vírus. A epidemia pode ser explosiva, enchendo rapidamente os serviços de saúde com doentes e preocupados. Existe outra preocupação: vírus da mesma família dos flavírus, como o zika, são conhecidos por sofrer pequenas alterações genéticas por viverem em meio a uma população vulnerável que os ajuda a ter potencial epidêmico. Apesar das mudanças serem pequenas e seus significados incompreendidos, cepas epidêmicas podem surpreender na forma como o vírus evolui, se comportando às vezes de maneira inesperada.



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